Faço de contas a fingir
que no nascente
do poente
o Sol brilha para mim também
e no além
brotam migalhas de justiça a
florir.
Depois sonho com sombras
debaixo dum Sol escaldante
abomino as sobras
das sombras estranhas
me envias (in)complacente:
as sombras também são minhas!
Oh!, a chuva matinal
Deus enviou-me a chuva torrencial
sou dono das cargas d´água
e minha amargura desagua
na foz dum rio qualquer
na foz dum rio a entardecer.
Faço de contas a sonhar
que as melodias das ondas do mar
numa praia linda
da ilha da minha Kianda
cantam para mim entusiásticas
melodias eufóricas.
Oh o solo é meu, recebi de herança
é minha a esperança
perdida no chão de riquezas
(riqueza? Que riquezas? Pobrezas!)
é meu o solo rico que galgo
é meu o lamento triste que rogo.
Deus enviou-me o sol também
o Sol é meu
também as sombras
abomino as sobras
que do alto teu céu
me envias arrogante. Turbilhões de
justiça no além!
Abomino os restos
recuso! Protesto meus protestos
as sobras. As sobras das sombras
que tua falsidade me grita
e envia hipócrita:
recuso as sobras!
As sombras. As sobras das sombras!
Luanda, 19 de Maio de 2006.
Décio Bettencourt Mateus
In Gente de Mulher
5 comments:
Como sempre, um excelente poema. Uma critica que nao se sente á sociedade angolana.
"Faço de contas a fingir que no nascente do poente o Sol brilha para mim também e no além brotam migalhas de justiça a florir."
"Oh o solo é meu, recebi de herança é minha a esperança perdida no chão de riquezas (riqueza? Que riquezas? Pobrezas!) é meu o solo rico que galgo é meu o lamento triste que rogo."
Kandandu, mano
Muito obrigado mano Namibiano. Grande Kandandu.
Mano, hoje, estás na Ondjira,
Kandandu
É preciso gritar bem alto: recuso as sombras, eu quero o sol!...
Gostei muito deste poema e vou "levá-lo" comigo.
Obrigada pela partilha.
Cumprimentos,
Odete
Obrigado Odete.
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