Wednesday, September 05, 2012

MUSEU DA ESCRAVATURA

Na tristeza do meu kissange
o lamento do pensamento
das gentes
que partiram p’ra longe
que partiram p’ra outros horizontes
em cânticos de desencanto.

Nas tuas ondas cansadas
oiço passos antigamente
passos escravos
acorrentados cativos
em liberdade de correntes
passos escravos no lamento tuas ondas.

No longe tua superfície ondulada
cheiro a navios negreiros
dos homens acorrentados
maltratados
na tua superfície azulada
a fumaça dos navios guerreiros:

Ó museu da escravatura
fala-me a história
enterrada na memória dos dias
fala-me os negros escravizados
vendidos
nas noites sofridas de brancura.

Fala-me os rostos transpirados
desgastados
nos homens valentes
arrastados prisioneiros
em navios negreiros
em navios nos aléns fumegantes.

Ó museu da escravatura
impávido viste meus irmãos
fazerem travessia do infinito
em inferno de porões
fala-me esta angústia no peito
esta angústia loucura.

Ó museu da escravatura
ainda sinto no pulsar tuas águas
dor das mágoas
dos meus antepassados
maltratados acorrentados
ainda doem os ossos nas noites de torturas.

Ó museu ingrato fala-me o ranger de dentes
Nos navios perdidos nos horizontes!


Décio Bettencourt Mateus

in Gente de Mulher

2 comments:

António Pereira said...

Palavras doídas de emoções que permanecem num recanto de um memória quase intuitiva que permanece à flor/cor da pele. Gostei, Décio.

Gostaria de partilhar o endereço de um blogue acabado de criar e inteiramente dedicado à promoção da língua portuguesa. No http://portuguesemforma.blogspot.com, para além de ferramentas úteis (como dicionários, enciclopédias e glossários), disponibilizo ainda a análise de situações problemáticas ou geradoras de dúvidas nos utentes da nossa língua. Eis a questão de hoje: glicemia ou glicémia?
Um abraço lusófono desde Setúbal.
Prof. António Pereira

Anonymous said...
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